Olá, pessoal!
Em junho de 2025, fiz uma viagem “solo” a Belém, capital do Pará. Voltei mega ansiosa para escrever sobre ela, pois fiquei completamente apaixonada por esse destino! Apesar de não ter sido minha primeira vez na cidade, foi como se fosse. Na minha infância, na época em que viajava para as competições de natação, estive em Belém, mas tenho poucas lembranças e elas não são muito boas, pois a insegurança e os prédios pichados ficaram marcados na minha memória. Porém, essa minha nova visita apagou completamente a imagem ruim que eu tinha da cidade.
Fiquei encantada, principalmente, pela riqueza cultural e pela paixão e orgulho dos paraenses por todas as manifestações locais: as músicas, as danças típicas, a religião, as lendas e tudo que se relaciona às origens deles. As pessoas também são muito receptivas e simpáticas, estando sempre dispostas a ajudar os turistas. Não poderia deixar de destacar ainda a culinária paraense que é uma verdadeira explosão de sabores, com ingredientes peculiares, não muito comuns no restante do país.
Fui embora já pensando em voltar, mas vou esperar as obras terminarem para conhecer a nova Belém. A cidade está parecendo um canteiro de obras, tudo para se preparar para sediar, em novembro de 2025, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 30. Pela primeira vez realizada na Amazônia, a conferência reunirá líderes mundiais, cientistas e representantes da sociedade civil para debater soluções sustentáveis em um dos biomas mais importantes do planeta.
Foi uma viagem de última hora, comprei a passagem menos de 15 dias antes. Fui sem planos, só reservei o hostel (Ô Vibe Party Hostel & Arts), que foi o único que encontrei na cidade, então não tinha muita opção. Apesar de não ser meu estilo, pois é um hostel de festa, consequentemente, bastante barulhento, a localização era muito boa, bem no Centro, perto da Praça da República. Nem pensei em hotel ou airbnb, pois queria conhecer pessoas e dei muita sorte, pois minhas companheiras de quarto (Thayna – SP, Jovana – PB e Franciele – MG) foram ótimas companhias nos passeios e nas refeições, tornando minha viagem mais especial.
Em que pese eu ter passado apenas quatro dias em Belém, a programação foi intensa e consegui visitar muitos lugares legais e provar várias comidas típicas. Um post só ficaria muito longo, por isso irei parcelar os meus relatos. Neste aqui, apresentarei as atrações que visitei e, no seguinte, as ilhas, as manifestações culturais que presenciei e a minha “orgia gastronômica”.
- ATRAÇÕES TURÍSTICAS
Não tinha noção da quantidade de atrativos turísticos em Belém. Junto com a Thayná, visitei os pontos mais conhecidos. Muitos desses eu acabei revisitando com o Moisés, paraense gente boa (uma redundância), estudante de história, que conheci por meio da Jovana, e que também me apresentou alguns destinos fora do roteiro. Passamos uma tarde batendo perna pela Cidade Velha e pelo Centro (“Comércio”)! E o melhor que foi numa terça-feira, dia em que as entradas nos museus são gratuitas, por isso conseguimos visitar vários. Só não visitamos mais, porque, durante a semana, os museus só funcionam das 9h às 14h (de sexta a domingo eles fecham às 17h). Foram muitas informações, espero que consiga registrar aqui um pouquinho de tudo que aprendi.
1 – Basílica Nossa Senhora de Nazaré – a imponente igreja fica bem no coração de Belém. Ela foi construída no início do século XX no local onde, segundo a tradição, foi encontrada a imagem da santa por Plácido José de Souza. A basílica é o ponto culminante do Círio de Nazaré — uma das maiores manifestações de fé do mundo. Sua arquitetura é neoclássica, com vitrais coloridos, vários detalhes em mármore e em madeira, além de mosaicos. As grades da entrada estão repletas por fitinhas de cores diversas, amarradas pelos fiéis em busca da realização de seus desejos.



2 – Mercado Ver-o-Peso – esse mercado centenário, fundado em 1901, fica às margens da baía do Guajará, e é considerado a maior feira livre da América Latina. É uma verdadeira experiência sensorial, com diversos aromas, cores e sabores. E meus sentidos ficaram super aguçados na sessão de sucos, onde, inclusive, é possível fazer uma degustação. Eu escolhi o suco de taperebá, que depois descobri que é o cajá. Virou meu suco favorito na viagem!

Ele é um verdadeiro complexo, pois além da parte da “feira”, têm alguns prédios, como o do Mercado do Peixe, o do Mercado de Carnes (em obras) e o Solar da Beira, onde fica uma feirinha de artesanato. No mercado é possível encontrar desde peixes frescos e frutas exóticas até ervas medicinais, artesanato local e o famoso banho de cheiro. Mais do que um ponto turístico, o Ver-o-Peso é um símbolo vivo da cultura paraense, onde tradição e cotidiano se misturam em um espetáculo autêntico e inesquecível.








Assim como quase toda a cidade, o Ver-o-Peso está em obras que vão deixar o mercado, não somente mais bonito, mas, principalmente, com uma melhor higiene. Estão fazendo as barracas em concreto e padronizadas, o belíssimo Mercado de Carnes está fechado para obras e estão reformando a Feira do Açaí Ver-o Peso, construindo um novo espaço para a comercialização, logo em frente ao ponto de chegada dos barcos que trazem a famosa iguaria paraense.




Também me chamaram muito a atenção os casarões da região do Ver-o-Peso, tanto aqueles com fachadas revestidas por azulejos portugueses, como aquelas belíssimas casas coloridas que, junto com os barcos de pesca, formam um cenário incrível!


3 – Estação das Docas – também localizado às margens da baía do Guajará, ela é um dos pontos turísticos mais charmosos e vibrantes de Belém do Pará. Inaugurado em 2000, o complexo revitalizou antigos armazéns portuários do século XIX e os transformou em um espaço moderno que reúne gastronomia regional, cultura, lazer e uma vista deslumbrante do pôr do sol amazônico. Com três armazéns temáticos — das Artes, da Gastronomia e de Feiras e Exposições — além de teatros e anfiteatros, o local é palco de eventos culturais gratuitos e celebrações típicas como o Estação Junina.



Estão ampliando a Estação das Docas, que vai ficar com quase o tripo do tamanho, e ganhará um hotel beira-rio.

Da Estação das Docas partem diversos passeios turísticos de barco. Thayná e eu escolhemos fazer o passeio do fim de tarde pela baía de Guajará com a empresa Vale Verde Amazônia (R$100 por pessoa sem comidas ou R$135 com as comidas). Demos sorte porque, nesse dia, o passeio foi mais longo, pois foi o arraial deles. Achei muito legal ver Belém por outro ângulo e o mais legal do passeio foram as apresentações culturais, principalmente o carimbó, dança típica do Pará. Os dançarinos arrasaram! Teve até quadrilha junina! Seriam duas horas de passeio, mas, devido à forte chuva que caiu no fim do passeio, tivemos que ficar mais tempo, pois o barco não conseguia atracar no cais. Deu tudo certo no final!





Um dos pontos que avistamos durante o passeio foi o Ver-o-Rio, complexo turístico, no bairro do Umarizal, às margens da baía do Guajará, inaugurado em 1999. Ele tem uma prainha e oferece uma vista privilegiada do rio, além de um calçadão arborizado, barracas de comidas típicas, playground e até um marégrafo — aparelho que mede o nível da maré. Uma ótima opção para ver o pôr do sol!

4 – Mangal das Garças -é um verdadeiro oásis amazônico no coração de Belém do Pará. Inaugurado em 2005, o parque zoobotânico ocupa uma área de 40 mil metros quadrados e reúne a diversidade da flora e fauna paraenses em um só lugar. Entre borboletários, viveiros de aves, lagos com vitórias-régias e o icônico Farol de Belém — de onde se tem uma vista panorâmica da cidade — o espaço encanta pela harmonia entre natureza e urbanidade. A entrada é gratuita, mas o acesso ao borboletário e ao Farol de Belém custam R$ 9,00 cada. Ficamos só pelo parque mesmo, admirando as aves e as iguanas. É lá que fica o renomado restaurante Manjar das Garças.





5 – Espaço Cultural Casa das 11 janelas – construída no século XVIII como residência do senhor de engenho Domingos da Costa Bacelar, o edifício passou por diversas transformações — de hospital militar a espaço de resistência política — até ser restaurado e transformado, em 2002, em um centro cultural dedicado à arte contemporânea. Localizada no complexo Feliz Lusitânia (conjunto arquitetônico e paisagístico que marca o ponto de origem da cidade, fundado pelos portugueses em 1616), às margens da baía do Guajará, a casa encanta com sua fachada simétrica, suas janelas imponentes e um jardim que é um ponto perfeito para contemplar o pôr do sol. Além do museu, a casa abriga do restaurante Casa do Saulo, sobre o qual eu falarei no post seguinte.


6 – Forte do Presépio (Forte do Castelo) – situado ao lado da Casa das 11 Janelas, também no Complexo Feliz Lusitânia, foi construído em 1616 pelos portugueses, sendo a primeira edificação da cidade e o marco inicial da colonização da Amazônia. Hoje, abriga o Museu do Encontro, que reúne artefatos arqueológicos como cerâmicas marajoaras e tapajônicas, além dos simbólicos muiraquitãs, revelando o encontro — nem sempre pacífico — entre culturas indígenas e europeias. O fosso original do forte só foi revelado no início dos anos 2000, durante escavações arqueológicas. Ele possui uma vista privilegiada para a baía do Guajará.





7 – Igreja de Santo Alexandre – construída entre os séculos XVII e XVIII pelos jesuítas, ela integra o complexo arquitetônico do Feliz Lusitânia. Ficou fechada por muito tempo e hoje abriga o Museu de Arte Sacra do Pará. Com sua fachada imponente, altares ricamente entalhados, estilo barroco e obras de arte sacra que remontam aos tempos coloniais, a igreja encanta tanto pela beleza quanto pela história. Ela não é mais patrimônio da Igreja, mas sim do Governo do Pará, por isso que o espaço onde funcionava a igreja agora é ocupado por obras do museu. Mas na sacristia ainda é possível ver um pouco de como ela era antes, como o teto, por exemplo.


No andar acima de onde era a igreja estão expostas as peças produzidas na Escola Jesuíta pelos indígenas, além de prataria, imagens sacras e outros objetos, como diversos muiraquitãs. Segundo a lenda, essas pedrinhas verdes em forma de sapinhos estão associadas às Ikamiabas (tribos só de mulheres) e seu ciclo reprodutivo. São como talismãs para proteção contra doenças, sucesso na caça e vitória nas guerras.


8 – Museu do Círio de Nazaré – também localizado no Complexo Feliz Lusitânia, no bairro da Cidade Velha, o museu foi criado em 1986 e reúne um acervo com mais de 2.000 peças, entre ex-votos, mantos, berlindas e registros audiovisuais que contam a história da devoção à Nossa Senhora de Nazaré. A exposição permanente permite que visitantes vivenciem, em qualquer época do ano, a grandiosidade dessa celebração reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade e maior manifestação religiosa do Pará.



9 – Catedral Metropolitana de Belém – também conhecida como Catedral da Sé, é um dos monumentos mais emblemáticos da capital paraense e um verdadeiro marco da fé e da história amazônica. Localizada no coração do bairro da Cidade Velha, no Complexo Feliz Lusitânia, sua construção teve início em 1748 e foi concluída em 1771, com traços do barroco e do neoclássico europeu. Dedicada à Nossa Senhora da Graça, padroeira da cidade, a catedral impressiona por sua fachada imponente, seus altares ornamentados e o altar-mor de mármore e alabastro esculpido em Roma. Infelizmente, não tiver o prazer de conhecer o interior, pois estava fechada quando fui, mas já fiquei encantada pela fachada!

10 – Museu de Arte de Belém (MABE) – funciona no Palacete Azul, oficialmente chamado Palácio Antônio Lemos, que também abriga a sede da Prefeitura Municipal de Belém. O museu foi fundado em 1991 e reúne mais de duas mil obras que vão de pinturas e esculturas a fotografias, cerâmicas indígenas e mobiliário dos séculos XIX ao XXI, refletindo a diversidade artística da região e do Brasil. O edifício em estilo neoclássico é por si só uma atração, com suas escadarias em mármore e salões elegantes que remetem à era áurea da borracha.



11 – Igreja de São João Batista – localizada no Largo de São João, foi construída originalmente em 1622 e reconstruída entre 1772 e 1777, e hoje é tombada pelo IPHAN. Ela é uma raridade na arquitetura religiosa brasileira devido a sua planta octogonal irregular e cúpula central . Abriga ainda pinturas ilusionistas em trompe l’oeil que encantam pela riqueza de detalhes, como a do altar.

12 – Igreja Nossa Senhora do Carmo – localizada na charmosa Praça do Carmo, é um dos mais belos exemplares do barroco joanino na Amazônia. Fundada pelos carmelitas em 1626 e reconstruída ao longo do século XVIII, a igreja impressiona por sua fachada em pedra lavrada, trazida de Lisboa, e por seu interior ricamente ornamentado, com altares dourados e um altar-mor em estilo nacional português. O templo, que é tombado pelo IPHAN, também guarda relíquias históricas, como o altar de prata com pedras semipreciosas.


13 – Theatro da Paz – é um dos mais antigos e luxuosos teatros do Brasil e está situada na Praça da República, é um dos espaços públicos mais emblemáticos da cidade, que dá lugar a várias manifestações populares e a uma feirinha aos domingos. Inaugurado em 1878 durante o Ciclo da Borracha, seu projeto neoclássico foi inspirado no Teatro alla Scala de Milão, refletindo a opulência da Belle Époque amazônica, no auge do período da borracha. Com lustres de cristal, pisos em mosaico de madeiras nobres e afrescos deslumbrantes, o teatro encanta tanto pela beleza quanto pela acústica impecável. É palco de óperas, concertos e espetáculos teatrais.

Fiz a visitação guiada, que acontece de hora em hora (o site diz de 9h às 17h, mas, no dia que fui, começou às 10h) e que custa R$10, com a opção de meia entrada. Achei bem legal, pois a explicação da guia é bem detalhada e é possível entrar no salão de espetáculos. Infelizmente o salão nobre estava fechado para visitação, por causa de obras.
Segundo a guia, abaixo do fosso tem uma cisterna, com água tratada e em movimento, para reserva de incêndio, que também serve de espelho sonoro. Explicou ainda que, na sala de espetáculos os andares eram divididos por classes sociais: a varanda só para os barões da borracha; as frisas para as famílias dos barões, exceto os filhos jovens, que ficavam na plateia para fazer negócios; no palco, têm seis camarotes, que serviam de vitrine para políticos, artistas que iriam se apresentar posteriormente e filhas de barões na idade de casar; o segundo andar era destinado aos professores, militares, doutores e políticos; no terceiro ficavam a classe média e o clero; e no quarto e último andar ficavam os escravos e servos para servir as pessoas.


O salão de entrada é um espetáculo também. A decoração possui vários traços da cultura e da fauna locais misturados à arquitetura clássica. Um exemplo é a pintura das paredes e do teto, feita a mão, sendo que a do teto do hall lembra a pelagem da onça. Outro é o mosaico do hall, cujas peças foram coladas com óleo do peixe murijuba (local), e que tem o desenho do muiraquitã. E ainda as colunas cariátides gregas com seios a mostra e colares indígenas.


14 – Parque Cemitério de Nossa Senhora da Soledade – encerramos nosso tour guiado pelo Moisés nesse cemitério, que foi inaugurado em 1850 em meio a epidemias que assolavam a cidade. Foi o primeiro cemitério público da capital e marcou a transição dos sepultamentos feitos em igrejas para um modelo urbano inspirado nas necrópoles europeias. Tombado como patrimônio histórico, o espaço abriga mausoléus e esculturas que revelam a riqueza artística e simbólica da época da borracha. Ele já não serve mais como cemitério e estava em obra, pois estão preparando ele para visitações.

Fiquei impressionada com o enorme potencial turístico de Belém e como ele ainda é pouco explorado. Espero que, após a COP-30, esse potencial seja melhor aproveitado e que os turistas, principalmente os brasileiros, busquem mais esse destino. Todo brasileiro deveria conhecer a história e a cultura paraenses, que se confundem com as do nosso país. Precisamos conhecer nossas origens!
Aguardem o próximo post sobre Belém, pois vai te deixar com água na boca!
Até a próxima, pessoal!
MAPA:
[…] Belém do Pará: cores, sabores e cultura […]
CurtirCurtir