Belém do Pará: ilhas, cultura e culinária

Olá, pessoal!

Chegou a vez de falar da parte mais deliciosa (literalmente) da minha viagem a Belém do Pará em junho de 2025. Neste post, vou falar sobre as ilhas que visitei, apresentar um pouco do que conheci da cultura local e deixar vocês com água na boca com as comidas que provei.

  • ILHAS

A capital paraense se estende por um arquipélago de mais de 40 ilhas, oferecendo aos visitantes uma experiência única entre rios e florestas. Entre as mais conhecidas estão Mosqueiro, com suas praias de água doce e clima de veraneio; Cotijuba, ideal para quem busca tranquilidade e contato com a natureza; Combu, famosa por sua fábrica de chocolate artesanal e trilhas pela floresta; e Outeiro, perfeita para um banho de rio com fácil acesso. Essas ilhas não só revelam a beleza natural da região amazônica, como também preservam tradições culturais e modos de vida ribeirinhos que encantam qualquer viajante. Como meu tempo era curto, precisei fazer escolhas e optei pelas ilhas do Combu, por ser mais próxima, e pela de Mosqueiro, para conhecer as praias de rio.

1 – Ilha do Combu

Após algumas pesquisas no Instagram em busca de um restaurante legal para almoçar na Ilha do Combu, Thayna e eu escolhemos o Chalé da Ilha, que fica no final de um dos igarapés que adentram a ilha, pois parecia ser menos “agitado” que aqueles que ficam logo em frente ao Terminal Hidroviário Ruy Barata, na Praça Princesa Isabel, de onde partem as lanchas de Belém (R$ 24 ida e volta). A travessia é bem rápida, apenas 15 minutos, e bem agradável!

Lanchas para a Ilha do Combu
Thayna e eu indo para a Ilha do Combu

Acertamos em cheio na nossa escolha, primeiro porque nos proporcionou um belo passeio por dentro do igarapé, e por ser um lugar lindo e bem integrado à natureza, com vários lugares para tomar banho: duchas, piscinão central com cascata, piscininhas e até “mesas molhadas”! Fiquei impressionada como o nível do rio sobe rápido! Chegou uma hora que mal dava para ver as cercas das “piscininhas”.

Chalé da Ilha e suas várias opções para banho
Banho de ducha com água do rio
“Piscinão” de rio no Chalé da Ilha
Curtindo um banho de rio na piscininha
Aproveitando a espreguiçadeira antes que o nível do rio ficasse mais alto ainda

Além de tudo que já mostrei sobre o Chalé da Ilha, outro ponto super positivo é a comida, que é deliciosa! Comemos um mix de pastéis: maniçoba, tacacá, filhote e pirarucu (R$39), e uma banda de tambaqui assado com arroz, feijão manteiguinha, farofa e salada de feijão (R$ 169). Enquanto a Thayna curtia essa “praia” com uma cervejinha, fui de suco de taperebá (R$10).

Pastéis variados: maniçoba, tacacá, filhote e pirarucu
A tão esperada banda de tambaqui
Felizes com nossa “praia” e com o nosso almoço

2 – Ilha do Mosqueiro
A Ilha do Mosqueiro, distrito de Belém, fica a cerca de 70 km de Belém, e é um dos destinos mais queridos pelos paraenses para curtir praias de água doce com ondas. Com mais de 17 km de orla, a ilha oferece opções para todos os gostos: da badalada Praia do Chapéu Virado à tranquila Praia do Paraíso, passando pela rústica Marahú, preferida dos surfistas.

A fanática por praia aqui não pensou duas vezes e tirou um dia para conhecer a ilha. A galera do hostel não animou, então resolvi ir sozinha mesmo, o que já adianto que não é uma boa ideia!

Como me orientaram, fui até o Terminal Rodoviário de Belém, onde peguei um ônibus da CoopetPan (R$15 o trecho) que sai a cada 14min- 30min. Foram duas horas e meia até a Vila do Mosqueiro, perto da praia do Chapéu Virado/ Farol, na avenida 16 de novembro. De lá, tem um ponto de van que leva para as praias do outro lado.

Como não achei a praia do Chapéu Virado/ Farol muito convidativa, resolvi pegar a van para a praia do Paraíso (R$4,60), que disseram que era bem mais tranquila e bonita. Depois de quase 40 minutos, cheguei à Barraca do Gringo, à “beira-mar” (rio) do Paraíso.

Barraca do Gringo

Não dei sorte, pois o nível do rio estava muito alto e não tinha mais faixa de areia, então não deu “praia”. Não sei se na “maré” baixa a água fica mais clara, mas confesso que tinha outra imagem da praia do Paraíso.

Praia do Paraíso com a “maré” alta

Só me restava, então, comer! Mas nem isso rolou! O cardápio não tinha opção de prato individual, todos eram em grandes porções. Tomei um revigorante suco de taperebá (já perceberam que viciei nesse suco, né?!) e resolvi voltar para a vila para tentar almoçar por lá. Fui para o ponto da van, em frente à barraca para esperar a seguinte, já que ela passaria a cada 30 minutos. Mas não foi o que aconteceu. Esperei mais de uma hora e nenhuma van apareceu! Como era segunda-feira, o movimento nas praias estava fraco. Não consegui Uber (o aplicativo está começando por lá). Então, não pensei duas vezes e peguei um moto táxi que estava passando na frente da parada da van.

Como já estava tarde, resolvi voltar para Belém. Então fiquei na Praça Carananduba, ponto mais próximo para pegar transporte para a capital. Todas as lanchonetes e restaurantes da praça estavam fechados, então fui direto para a parada de ônibus, mas quem passou primeiro foi a van (R$15 o trecho) e foi nela mesmo que voltei para Belém. A vantagem é que ela é mais rápida, em uma hora e meia cheguei ao Terminal Rodoviário de Belém, mas as vans não entram, param do lado de fora.

Foi uma furada, mas não me arrependo de ter ido, pois ficaria curiosa para saber como era a ilha. O que percebi é que só vale a pena ir de carro, pois, além de ser muito mais rápido (mais ou menos uma hora de viagem), facilita o deslocamento pelas praias. E indo em grupo fica melhor para comer. Os restaurantes das praias parecem muito bons, inclusive!

  • MANIFESTAÇÕES CULTURAIS

A paixão dos paraenses por sua cultura é de impressionar! Eles exaltam e preservam bastante suas músicas, seus músicos, as danças locais e seu folclore. Tive a oportunidade de presenciar algumas manifestações culturais e fiquei extremamente encantada!

1 – Arraial do Pavulagem – sem planejar, dei a sorte de estar em Belém no primeiro domingo do Arraial do Pavulagem e poder presenciar esse evento maravilhoso! É uma das manifestações culturais mais vibrantes e emocionantes de Belém do Pará, que transforma as ruas da cidade em um verdadeiro espetáculo de cores, música e tradição durante o mês de junho. Com seus famosos “Arrastões”, o evento reúne milhares de pessoas — muitas vestindo o tradicional chapéu de fitas coloridas — que seguem em cortejo ao som de carimbó, toadas e ritmos amazônicos. A concentração acontece na Praça da República, em frente ao Theatro da Paz, bem pertinho do hostel em que me hospedei. O cortejo segue até a Praça Waldemar Henrique, onde a festa continua com shows e apresentações culturais. Mais do que uma celebração junina, o Arraial do Pavulagem é um ato de resistência e valorização da cultura popular amazônica, homenageando mestres e mestras da tradição oral e dos saberes ancestrais.

Com o tradicional chapéu do Pavulagem
Concentração do Arraial do Pavulagem em frente ao Theatro da Paz
Banda do Arraial do Pavulagem

Achei muito legal também os pernaltas, que são as pessoas que dançam e acompanham o cortejo usando pernas de pau. Tinha até os pernaltinhas, compostos por crianças. Achei muito fofo!

Os Pernaltas

O calor estava intenso, por isso não segui o cortejo, mas consegui aproveitar bastante a concentração na praça e fiquei encantada com as músicas, a dança e a paixão das pessoas, desde o mais novinho até o mais idoso. O auge foi quando o boi apareceu na sacada do Theatro da Paz!

O “boizão”
O boizinho
Saída do cortejo do Pavulagem
Um mar de chapéus
O paraense tem muito orgulho da bandeira e da cultura

2 – Carimbó – eu já achava essa dança muito legal ao vê-la na TV, mas ao vivo foi bem mais legal! Ela tem raízes indígenas e influências africanas e europeias. É uma dança de roda marcada por tambores artesanais chamados curimbós, saias rodadas e movimentos que imitam a natureza. Mais do que um ritmo, o carimbó é um símbolo de resistência e celebração da cultura amazônica, reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil desde 2014. Foi no passeio de barco que fiz pela Baía do Guajará que tive o prazer de assistir a uma bela apresentação de carimbó!

Apresentação de carimbó
  • CULINÁRIA

Confesso que o principal motivo de querer voltar a Belém foi a comida! Como consequência, fiz um intensivão na culinária paraense, o que resultou em uma verdadeira “orgia gastronômica”!

1 – Point do Açaí – é uma famosa rede de restaurantes de comida paraense, com diversas unidades em Belém (fui na de Umarizal), cujo carro chefe é o açaí. Foi o lugar que Thayná e eu escolhemos para comer açaí em sua forma original (sem açúcar, xarope ou qualquer outra forma de adoçante), acompanhado de peixe (filhote) frito, farinha e arroz (R$94 com 500ml de açaí). Confesso que estava com receio. Os garçons já são acostumados a receber os turistas que querem provar essa mistura, então eles vão orientando: primeiro provar um pouco do açaí puro (não gostei), depois misturar com um pouco de farinha (meio estranho) e, finalmente, colocar o peixe, a farinha e o açaí juntos na boca (aí ficou mais saboroso). Ah! Jamais coloquem o açaí no prato junto com o peixe e demais acompanhamentos, como se fosse um molho! Isso é um pecado para eles e existe até meme sobre isso. O açaí tem que permanecer na cuia! Para entrada pedimos bolinho de maniçoba com charque, que estava divino! O restaurante é tão profissional no açaí que dão até um kit para escovar os dentes para retirar o roxinho dele.

Filhote frito com açaí e farinha
Bolinhos de maniçoba

2 – Casa do Saulo na Casa das 11 janelas -um amigo me recomendou muito o restaurante Casa do Saulo, que ele conheceu em Alter do Chão. Por coincidência, ao visitar a Casa das 11 Janelas, vi que tinha uma unidade lá e não pensei duas vezes e foi o lugar escolhido para o jantar. Pedimos o prato Casa do Saulo (peixe filhote ao molho de castanhas com camarões e banana da terra assada, arroz e farofa – R$169). Estava muito bom, mas eu esperava um peixe mais “alto”, pois achei os pedaços muito finos (normalmente, os pedaços de filhote são mais altos). Esse restaurante é muito procurado no fim de tarde para admirar o pôr do sol na baía do Guajará.

Filé de filhote com camarões grelhados ao molho de castanha com banana da terra
Jantar com Thayna para fechar nosso dia intenso de passeios com chave de ouro

3 – Amazônia na Cuia – esse restaurante é uma ótima opção para quem quer provar os pratos mais famosos do Pará, pois eles oferecem porções menores (mini cuia) e também um menu degustação com várias cuias com os principais pratos da culinária local. Lá eu provei o bolinho de charque com queijo do Marajó, que é um queijo de búfala (R$18), o Tacacá (R$22 a mini cuia) e suco de bacuri (R$ 13.9). Ainda dei uma provada no bolinho de pato com tucupi e no creme de cupuaçú com castanha que as meninas pediram. A comida é bem gostosa, mas não curti muito o tacacá, achei bem forte. Ele é é feito com tucupi (um caldo amarelo extraído da mandioca brava e fermentado), goma de tapioca, camarões secos e jambu, uma erva amazônica que provoca uma leve dormência na boca.

Bolinho de pato no tucupi, bolinho de charque com queijo do Marajó, molhinho de jambu, suco de bacuri e drink com cachaça de jambu
Mini cuia de tacacá
Creme de cupuaçú com castanhas

4 – Barraca da Fafá – nada melhor que ter um local como guia! Dei a sorte de conhecer o Moisés que, além de ser estudante de história, conhece muito sua cidade natal e me levou para almoçar em um lugar bem raiz que amei! A Barraca da Fafá fica na calçada da rua Treze de Maio, em meio ao comércio, e, em um carrinho, eles preparam as principais iguarias paraenses. Escolhi a maniçoba (R$25), que parece uma feijoada. Em vez de feijão, o ingrediente principal é a maniva, que são as folhas da mandioca brava moídas e cozidas por até sete dias para eliminar substâncias tóxicas. Depois desse longo preparo, a maniva é cozida com uma variedade de carnes salgadas e defumadas, como charque, linguiça, toucinho, orelha e pé de porco, resultando em um ensopado escuro, denso e extremamente saboroso. Ela veio acompanhada por arroz branco e camarão. Estava incrível! Virou minha comida favorita do Pará! Para beber pedimos uma garrafa de Garotão, refrigerante local de guaraná servido em uma garrafa de 600ml, como as de cerveja. Bem gostosinho também! A calçada estava lotada de clientes que se deliciavam com as comidinhas, o que comprova a qualidade da comida. Sem dúvida, esse é o lugar que eu marcaria como parada obrigatória em Belém!

Barraca da Fafá na produção das comidas
Clientes da Barraca da Fafá lotando a calçada
Moisés e eu em nosso almoço raiz: maniçoba acompanhada do refrigerante Garotão

5 – Mundo dos Docinhos – após ser apresentada à melhor maniçoba da cidade, Moisés me levou para essa doceria, também na região do comércio, para provar uma sobremesa típica: a torta Maria Isabel com recheio de bacuri (R$17). Estava uma delícia!

Maria Izabel de bacuri

6 – Remanso do Peixe – finalizei minha orgia gastronômica em um jantar com a Fran, uma das minhas companheiras de quarto no hostel. Esse restaurante é bem conhecido na cidade, sendo de propriedade dos pais do renomado chef paraense, Thiago Castanho, e, inclusive, funciona na casa da família, em uma vila bem residencial. O lugar é bem aconchegante. Escolhemos a caldeirada paraense de filhote no tucupi com pudim de leite com calda de cumaru (é a baunilha deles) e tapioca para sobremesa e suco de cupuaçu (R$101 para cada).

Caldeirada paraense de filhote (com tucupi)
Jantar de despedida na companhia da mineira Fran
Pudim de leite com calda de cumaru e tapioca

7 – Boteco do Seu Beja – fica bem ao lado do hostel O Vibe, onde me hospedei. Ele é bem conhecido na cidade, estando sempre movimentado. Funciona de manhã, de tarde e de noite, dando até a impressão de ser 24h. O café da manhã de lá é bem gostoso e com um preço bom. Comi um cuscuz com ovo (R$13,20) bem saboroso. Era o point da galera do hostel para tomar uma Cerpinha (cerveja local). Foi lá que fizemos a despedida da Jovana, quando conheci os paraenses Larissa e Moisés, além dos parceiros de hostel, Jonas e Gabriel!

Novos amigos na despedida da Jovana e do Jonas no clássico boteco Seu Beja

Acho que deu para perceber que amei essa minha segunda visita a Belém, né? Mudou completamente a imagem ruim que tinha da cidade. Foi do jeitinho que eu gosto: sem planejamento prévio, mas deu tudo certo, conheci vários lugares legais e fiz novos amigos! Com certeza voltarei ao Pará, não somente para explorar mais Belém, mas também para conhecer outros destinos como a Ilha do Marajó e Alter do Chão!

Até a próxima, pessoal!

MAPA:

POST ANTERIOR:

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.