A histórica Sofia (Bulgária), onde as religiões convivem em harmonia

Olá, pessoal!

Neste post eu vou contar como foi minha passagem pelo terceiro dos quatro países que visitei com a minha mãe na região dos Balcãs (março de 2024): a Bulgária, que faz fronteira com a Romênia, a Sérvia, a Macedônia do Norte, a Grécia e a Turquia. Visitamos duas cidades búlgaras: Sofia, a capital, e Plovdiv. Sendo que esta segunda cidade, que conhecemos em um bate e volta, será apresentada no post seguinte.

Chegamos a Sofia após seis horas de viagem de ônibus desde Escópia, capital da Macedônia do Norte. A capital búlgara está situada no oeste do país, aos pés da montanha Vitosha, e é considerada uma das cidades mais antigas da Europa, com mais de 7 mil anos de história, tendo sido um grande centro comercial. O idioma oficial é o búlgaro e a moeda utilizada é o lev búlgaro (BGN). Fundada originalmente como Serdika no século VIII a.C., a cidade passou por diversos domínios, incluindo o Império Romano, o Império Bizantino e o Império Otomano, até se tornar a capital búlgara em 1879. Hoje, Sofia é um vibrante centro cultural e político, onde ruínas romanas convivem com igrejas ortodoxas, mesquitas e sinagogas, refletindo sua rica diversidade histórica e religiosa.

Nossa estadia na Bulgária foi de três noites e ficamos hospedadas todo esse período em um airbnb na região de Boulevard Vitosha, uma área bem localizada para explorar os principais pontos turísticos de Sofia.

Em relação à moeda, recomendo sempre ter alguns “levs” (BGN), pois percebi que não saía muito vantajoso usar euro. Os cartões internacionais são bem aceitos. Eu viajo com o Nomad e uso, inclusive, no transporte público por aproximação, o que facilita bastante, principalmente em países em que a comunicação não é tão fácil por causa do idioma (escrito ou falado). Eles usam o alfabeto cirílico, por isso, é bem difícil entender o que está escrito nas placas e nos transportes, mas, na parte mais turística, encontramos algumas placas no nosso alfabeto, o romano.

Usamos bastante o tram para nos locomovermos por Sofia

No primeiro dia, fizemos um free walking tour para conhecer os principais pontos da cidade, os quais apresentarei a seguir. No segundo dia, fomos para Plovdiv, e no último retornamos a algumas atrações turísticas que mais nos chamaram a atenção e fizemos umas comprinhas na Solunska Street, uma rua cheia de lojas.

Free walking tour por Sofia

Segue um apanhado do que visitamos nessa rápida passagem por Sofia:

1 – Praça da Tolerância – localizada em meio ao centro histórico da capital búlgara, é um espaço simbólico onde quatro grandes religiões coexistem lado a lado: o Cristianismo Ortodoxo, o Catolicismo, o Judaísmo e o Islamismo. Em poucos passos, é possível visitar a Igreja Ortodoxa Sveta Nedelya, a Catedral Católica de São José, a Sinagoga de Sofia (a maior dos Bálcãs) e a Mesquita Banya Bashi. É um testemunho da convivência pacífica entre diferentes crenças em uma cidade marcada por séculos de transformações.

1.1 – Igreja Sveta Nedelya (Santo Domingo) – igreja ortodoxa localizada no centro geográfico da capital búlgara, também conhecida como Igreja do Santo Domingo. Com sua cúpula verde e fachada imponente, foi reconstruída e restaurada diversas vezes e se tornou um símbolo de renovação espiritual em meio à turbulência da história búlgara. Durante minha visita, o local estava adornado com coroas de flores em homenagem ao Patriarca Neófito, que havia falecido. O funeral dele foi realizado nessa igreja.

A igreja que é o centro geográfico de Sofia
A cidade estava de luto pelo falecimento do Patriarca Neófito
Coroas de flores em homenagem ao falecimento do Patriarca Neófito
Imagem do Patriarca Neófito dentro da igreja
O interior da igreja é belíssimo e ricamente decorado

1.2 – Catedral Católica de São José (St. Joseph) – principal templo católico romano da cidade. Originalmente construída no século XIX, a igreja foi quase totalmente destruída durante os bombardeios da Segunda Guerra Mundial. Sua reconstrução, concluída em 2006, simboliza não apenas a resiliência da comunidade católica local, mas também o renascimento espiritual de Sofia após décadas de regime comunista. Com linhas modernas e interiores acolhedores, a catedral abriga celebrações em diversos idiomas, refletindo o caráter cosmopolita da cidade.

Está localizada próxima à estátua de Santa Sofia, erguida em 2000, no centro de Sofia, em substituição à estátua de Lênin, líder comunista. Essa figura feminina simboliza sabedoria, e força, refletindo o nome da cidade — “Sofia”, do grego sophia, que significa sabedoria.

Estátua de Santa Sofia com a Catedral católica ao fundo

1.3Sinagoga de Sofia – ela fica escondida atrás do Mercado Central (estava em reforma). Foi inaugurada em 1909 e hoje é a maior sinagoga dos Bálcãs e uma das maiores da Europa. Durante a Segunda Guerra Mundial, a população de Sofia se mobilizou contra a deportação dos judeus, pressionando o rei a negociar com os nazistas — um ato de coragem que salvou milhares de vidas. Hoje, além de ser um local de culto, a sinagoga abriga um pequeno museu que celebra essa história de resistência e solidariedade. A entrada custava 5 BGN, mas estava fechada, por isso não entramos.

Sinagoga de Sofia
Infelizmente, não visitamos o interior, pois estava fechada.

1.4 – Grande Mesquita de Sofia (Mesquita Banya Bashi) – herança otomana, é a única mesquita que existe hoje na cidade. Com a saída dos mulçumanos, as outras mesquitas foram abandonadas. Ela foi construída no século XVI sobre fontes de águas termais.

Grande Mesquita de Sofia

2 – Complexo Arqueológico de Serdika (Fórum de Serdika)– Em 2012, na construção da linha 2 do metro (estação Serdika), acharam ruínas romanas do século IV e resolveram preservá-las, colocando umas camadas de tijolo em cima das pedras para protegê-las das intempéries e aplicando um novo piso. Portanto, não é exatamente original. A ideia é fazer um museu a céu aberto.

Ruínas do Fórum de Serdika
Ruínas romanas em meio ao agito da cidade
Colocaram umas camadas de tijolo para proteger

Um dos destaques do Complexo Arqueológico são as ruínas do portão leste da antiga cidade de Serdika, que preserva o piso original de pedra da “rodovia” que ligava Serdika (atual Sofia) até Constantinopla (atual Istambul, capital da Turquia).

Ruínas do portão leste da antiga cidade de Serdika

3 – Igreja otomana do século XV – junto das ruínas ao redor do metrô Serdika, fica essa igrejinha de pedra datada do século XV, quando não era comum construir igrejas. Ela foi construída com pedras de um templo do século IV.

Igrejinha otomana em pedra

4 – Museu de História de Sofia – está instalado no antigo edifício dos Banhos Minerais Centrais, construído entre 1905 e 1913, em estilo neo-bizantino com toques art nouveau e nacional-romântico búlgaro. A edificação funcionou como banho público até 1986 e depois foi restaurado e convertido em museu, abrigando mais de 100 mil artefatos que narram a história da capital. Do lado de fora, fontes de água mineral continuam jorrando, e é comum ver moradores enchendo garrafas com a água morna e cristalina que dizem possuir poderes curativos.

Museu de História de Sofia
Fontes de água mineral (água morna) para o público em geral

5 – Palácio Presidencial da Bulgária – a sede do governo fica ao lado da Assembleia Nacional e ambas as edificações datam da era comunista e foram utilizadas como quartel general do Partido Comunista Búlgaro. Um dos momentos mais aguardados pelos visitantes é a troca da guarda, realizada com precisão militar e vestimentas cerimoniais, que acontece diariamente em frente ao prédio.

Largo onde ficam a Assembleia Nacional e o Palácio Presidencial da Bulgária
Guarda presidencial protegendo uma das entradas do Palácio

Está rodeado por ruínas romanas e, em seu pátio interno, está localizado um dos prédios mais antigos da cidade (século IV d.C.): a Igreja de São Jorge (Rotunda Sveti Georgi), construída com tijolos vermelhos no estilo romano tardio. A rotunda já foi templo pagão, igreja cristã, mesquita otomana e voltou a ser igreja ortodoxa.

A Rotunda rodeada pelo Palácio Presidencial

6 – Praça do Teatro Nacional ( Ivan Vazov National Theatre)- localizada em frente ao majestoso edifício neoclássico do teatro, com suas colunas imponentes e fachada ornamentada, a praça é cercada por jardins bem cuidados e fontes (estavam desligadas), sendo o ponto de encontro favorito dos moradores.

Praça em frente ao Teatro Nacional
Teatro Nacional Ivan Vazov

Em março, as árvores são enfeitadas com Marteniças, que são pulseirinhas vermelhas e brancas penduradas como símbolo de saúde e sorte, celebrando a chegada da primavera.

Árvores enfeitadas com Marteniças

7 – Museu de Arte Nacional – instalado no antigo Palácio Real (a monarquia acabou em 1946 com a chegada do comunismo), o Museu abriga uma das maiores coleções de arte búlgara do país, com obras medievais, renascentistas, modernas e contemporâneas. Parte da coleção foi protegida em abrigos subterrâneos durante a Segunda Guerra Mundial. A entrada é paga (10BGN), mas é bom pesquisar antes, pois alguns dias ela é gratuita.

Museu de Arte Nacional

8 – Catedral de Saint Alexander Nevsky – principal cartão postal de Sofia, com suas belíssimas cúpulas, ela foi construída entre 1882 e 1912 em homenagem aos soldados russos que ajudaram a libertar a Bulgária do domínio otomano, sendo dedicada ao santo guerreiro russo Alexander Nevsky. Em sua construção foram utilizados materiais de diversas partes do mundo, como mármore italiano e até ônix brasileiro. A catedral, que é ortodoxa, comporta até 5 mil pessoas e abriga, em seu subsolo, um museu de ícones religiosos que fazem parte da Galeria Nacional da Bulgária. A entrada é gratuita, mas há uma pequena taxa para fotografar o interior, onde o silêncio (pedem para não conversar) é respeitado como parte da experiência espiritual.

A tão esperada foto com a Catedral
Interior da catedral

Quando chegamos a catedral ainda estava fechada para visitas, pois o corpo do Patriarca Neófito (na hierarquia, ficava logo abaixo do Papa) estava sendo velado lá. Mas o cortejo fúnebre já estava saindo em direção à Igreja Sveta Nedelya, onde iria ocorrer o funeral. Conseguimos acompanhar a passagem do cortejo, que teve até tanque de guerra puxando o caixão. Em seguida, entramos para visitar a catedral.

Esperando o cortejo fúnebre passar
A guarda nacional na frente do cortejo
Tanque de guerra puxando o caixão


9 – Igreja de Haya Sofia (sabedoria) – ofuscada pela imponente Catedral de Saint Alexander Nevsky, que fica logo ao lado, é considerada a pedra fundamental da capital búlgara por ter sido a construção principal da antiga Serdika. Construída no século VI, é uma das mais antigas igrejas cristãs do sudeste europeu e deu nome à própria cidade (“Sofia”, que significa “sabedoria” em grego). Erguida sobre uma antiga necrópole romana, a igreja já foi basílica cristã, mesquita otomana e, hoje, templo ortodoxo.

Igreja de Haya Sofia

9 – Palácio Nacional de Cultura (NDK)– construção mais recente (uma bebê perto das que eu acabei de apresentar), inaugurada em 1981 para celebrar os 1300 anos da fundação do Estado búlgaro, é o maior centro cultural e de convenções do sudeste europeu. Abriga salas de concertos, teatros, galerias e espaços para exposições, sendo palco de festivais internacionais, conferências e eventos políticos. Localizado na super movimentada Praça da Bulgária, ao final do Boulevard Vitosha.

Praça da Bulgária com o Palácio Nacional de Cultura

10 – Boulevard Vitosha – via de pedestre que vai do Palácio Nacional da Cultura até a Praça Sveta Nedelya, é a principal avenida de Sofia e, ao longo dela, é possível encontrar cafés com terraços ao ar livre, lojas de grife, restaurantes típicos, alguns turcos (a influência turca na culinária búlgara é forte) e bares animados. Como ficava perto da nossa hospedagem, passeamos bastante por ela.

A movimentada Boulevard Vitosha

Ao fundo do boulevard, dá para avistar a montanha Vitosha, que deu nome à via e que, no inverno, tem uma movimentada estação de esqui.

A vista para a Montanha Vitosha

11 – Mercado das Mulheres – sempre que visito um lugar novo, procuro um mercado de comida, pois gosto de ver um pouco do dia a dia dos locais. Tentamos ir no Mercado Central, mas estava em reforma, foi quando decidimos ir ao Mercado das Mulheres, o mais antigo mercado em funcionamento na capital búlgara, ativo desde 1878. Após sua modernização em 2014, ganhou pavilhões com barracas padronizadas, cafés e restaurantes. Lá você encontra especiarias do Oriente Médio, frutas e verduras frescas, queijos locais e mel artesanal.

Entrada do Mercado das Mulheres
Corredor das verduras (tudo limpo e organizado)
Parte do Mercado onde ficam os restaurantes, cafés e banheiros

12 – Bairro Sredets – esse bairro, localizado no centro da capital búlgara, além de ser o epicentro cultural e histórico da cidade, pois abriga alguns dos marcos mais emblemáticos: o Teatro Nacional Ivan Vazov, a Catedral Alexander Nevsky, o Museu Nacional de Arte, e até trechos das muralhas da antiga Serdika; concentra diversos teatros e espaços culturais, e também se destaca pela sua cena gastronômica. A variedade de restaurantes e cafés é grande, mas fomos em busca de uma taverna tradicional para provar pratos típicos.

Escolhemos a Tavern Izbata, onde pedimos um Kapama (prato típico com repolho, carnes de porco e de frango e arroz assados no forno com pão pita como tampa), e uma porção de queijo feito na casa gratinado acompanhado de tomate e linguiça. A conta deu um pouco menos de 50BGN, cerca de U$27.

Provando um pouco da culinária búlgara
Kapama – um aspecto meio pálido, mas estava gostoso

Essa viagem foi uma verdadeira aula de história da humanidade, da arquitetura e da arte. Lembrei muito das minhas aulas durante o curso de Arquitetura! Além disso, Sofia é um exemplo de que é possível que as diversas religiões convivam em harmonia! Fiquei encantada pela capital da Bulgária! Sigam acompanhando que ainda tem mais um post sobre esse lindo país!

Até a próxima!

MAPA:

POSTS RELACIONADOS:

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.