A revitalizada Escópia – Macedônia do Norte

Olá, pessoal!

Seguindo os relatos da viagem que fiz com minha mãe, em março de 2024, por destinos inusitados no continente europeu, chegou a vez de falar da nossa passagem por Escópia, capital da Macedônia do Norte, destino seguinte a nossa visita à Tirana, capital do país vizinho, Albânia.

A Macedônia do Norte está localizada no sudeste da Europa, na região dos Balcãs, e é um país sem saída para o mar, cercado por montanhas, vales e rios. Ela faz fronteira com cinco países: Sérvia, Kosovo, Albânia, Bulgária e Grécia. Essa posição estratégica a torna um ponto de encontro entre culturas. A língua oficial é o macedônio, escrita com o alfabeto cirílico (difícil!), mas o albanês também é bastante falado, além de outros idiomas, como o turco, por exemplo. A moeda oficial é o denar macedônio (MKD).

A região foi incorporada ao Império Macedônio sob o comando de Filipe II e Alexandre, o Grande. Posteriormente, tornou-se parte do Império Romano e, depois, do Bizantino. A partir do século XIV, foi dominada pelos turcos otomanos por mais de 500 anos. Após as Guerras dos Balcãs (1912–1913), o território foi integrado ao Reino da Iugoslávia. Com o colapso da Iugoslávia, a Macedônia declarou sua independência em 1991. Em meio a tensões com a Grécia sobre o uso do nome “Macedônia”, o país adotou oficialmente o nome Macedônia do Norte em 2019, abrindo caminho para sua entrada na OTAN e aproximando-se da União Europeia.

Um terremoto em 1963 destruiu boa parte de Escópia, a qual vem sendo revitalizada, com destaque para o grande projeto de revitalização de 2014 (“Skopje 2014”), cuja peculiaridade foi a grande quantidade de estátuas que espalharam pela cidade e a construção de prédios em estilo neoclássico para parecerem antigos.

Confesso que não conhecia nada sobre o país e gostei muito do que encontrei em sua capital: uma mistura harmônica entre o “velho” e o “novo”! A passagem pela cidade foi muito rápida, um dia e meio apenas, mas deu para visitar alguns pontos turísticos da cidade.

Como mostrei no post sobre a Albânia, saímos de van de Tirana e, após 7 horas de viagem, chegamos à rodoviária central de Escópia. E a aventura já começou ali. Pegamos um táxi para o nosso airbnb, porém o taxista não falava inglês, só turco, e não aceitava euro (eu ainda não tinha a moeda local). Mas deu certo, pois mostrei as fotos do lugar onde ficava o apartamento, bem na praça principal da cidade (Praça da Macedônia), e ele nos levou até lá e aguardou enquanto eu trocava dinheiro para pagá-lo. Então, fica a dica: apesar de a maioria dos lugares aceitar euro, é bom ter um pouco da moeda local em espécie. Ah, e um aplicativo de tradução também é uma mão na roda!

Praça Macedônia vista do nosso quarto

Vamos ao que interessa! A seguir, mostrarei os lugares que visitamos e os lugares onde comemos.

  • Atrações turísticas

Como de costume, fizemos nosso free walking tour (passeio guiado caminhando) para conhecer as principais atrações turísticas da cidade e depois passeamos por conta própria. O ponto de encontro do passeio foi na Praça da Macedônia, bem embaixo do nosso apartamento, o que comprova que arrasei na escolha do local de hospedagem! Tudo que visitamos na cidade foi a pé.

Galera do free walking tour e o guia Vasko

Seguem os pontos que visitei na cidade:

1 – Praça da Macedônia – localizada bem no centro da capital, é cercada por monumentos imponentes, fontes vibrantes e edifícios em estilo neoclássico, a praça abriga a colossal estátua de Alexandre, o Grande — um símbolo da identidade nacional. O contraste entre o brutalismo (herdado do período comunista) e as construções modernas com fachadas “antigas” confere ao local uma atmosfera única, misturando o velho e o novo em perfeita harmonia. Ela começou a ganhar sua forma atual na década de 1920, mas antes disso, a área já era um ponto central da cidade, por estar no final da Ponte de Pedra — a principal travessia sobre o rio Vardar. Durante esse período, muitos edifícios do estilo otomano foram demolidos e substituídos por construções de estilo ocidental.

A belíssima Praça da Macedônia

Alexandre, o Grande (apesar de sua baixa estatura), foi rei da Macedônia no sec. IV e um dos maiores conquistadores da história, criando um amplo império e fundando diversas cidades (“Alexandrias”). Sua estátua é a principal da cidade.

Na cidade das estátuas, essa de Alexandre, o Grande, é a de maior destaque
A famosa estátua mais de perto

A poucos passos da Praça da Macedônia, está a Praça Phillipe II, dedicada ao pai de Alexandre, o Grande — figura crucial na formação do Império Macedônio. Mais uma obra do projeto de revitalização de 2014, possui esculturas em estilo clássico e uma fonte central que remete aos tempos helenísticos, o espaço celebra as raízes históricas do país, reforçando o orgulho nacional em meio à paisagem revitalizada da capital. O mais curioso é que a estátua de Filipe II parece “cumprimentar” a de seu filho, localizada na praça vizinha, criando uma espécie de diálogo simbólico entre passado e presente.

Monumento central da Praça Phillipe II

2 – Arco do Triunfo – é oficialmente chamado de Porta Makedonija e fica bem perto da Praça da Macedônia. Ele chama a atenção, pois nos remete a Paris, porém, o de Escópia é bem recente, tendo sido construído em 2012. Ele celebra os momentos históricos e as conquistas do povo macedônio, exibindo relevos detalhados que retratam cenas da história nacional, desde o Império Macedônio até a independência do país. Com 21 metros de altura, ele foi construído em mármore branco.

O Arco do Triunfo macedônio
Cenas da história da Macedônia do Norte retratadas nos relevos em mármore

3 – Ponte de Pedra (Kamen Most)- a famosa ponte, construída em 1469, durante o domínio Otomano, sobre o rio Vardar, liga a cidade nova (greco-romana) à velha (mulçumana), onde fica o Old Bazaar, e era a principal via de ligação da antiga estação de trem ao Mercado onde eram feitas as negociações comerciais. Ela resistiu bravamente ao terremoto de 1963, sendo um dos principais monumentos históricos da cidade.

A famosa Ponte de Pedra com o Arquivo Público da República da Macedônia ao fundo

Próximo à Ponte de Pedra, um imponente edifício chama a atenção: o Arquivo Público da República da Macedônia. Com sua fachada imponente e arquitetura que remete aos grandes centros culturais europeus, o edifício abriga documentos, registros e artefatos que narram os diferentes ciclos da história macedônia — desde o período otomano até a independência moderna.

Outra ponte também se destaca: a Ponte da Civilização, com estátuas que representam pensadores, artistas e inventores ao longo da história da humanidade, com um propósito mais simbólico do que funcional.

Arquivo Público da República da Macedônia e a Ponte da Civilização
Ponte da Civilização iluminada e com suas belas estátuas

Achei muito agradável o passeio pelas margens do rio Vardar, pelo lado da “cidade nova”. É uma área com alguns bares e restaurantes, uma boa opção para um programinha noturno.

Orla do rio Vardar

4 – Old Bazaar – após atravessar o rio Vardar pela Ponte de Pedra, chegamos ao Old Bazaar, que já foi um centro comercial estratégico nos tempos do império Romano. Ele fica na parte antiga da cidade e. atualmente, possui grande influência turca e a religião mulçumana predomina na região. É considerado o maior mercado dos Balcãs e uma verdadeira cápsula do tempo que preserva a alma otomana da capital macedônia. Com mais de mil lojas, mesquitas, casas de chá, alfaiates e restaurantes típicos, passear por ele permite o contato com aromas exóticos, tecidos coloridos e o som envolvente das conversas em várias línguas. As lojas fecham no fim de tarde, por isso que achamos tudo meio parado quando fomos no início da noite em que chegamos, mas a imagem mudou completamente na tarde do dia seguinte, quando nos deparamos com um lugar bem movimentado!

Ruelas movimentadas e repletas de lojas no Old Bazzar
Explorando o Old Bazaar com mommys
Pela noite, poucas lojas estão abertas no Old Bazaar

5 – Memorial dos Heróis “Caídos” (Memorial of the falling heroes) – a parte “nova” da cidade é repleta por monumentos com finalidade histórica (não necessariamente são antigos) e esse é um exemplo deles. Em 2014, esse monumento foi erguido para homenagear os soldados que perderam a vida durante a guerra pela independência da Macedônia. Com colunas imponentes e uma estética que lembra o Portão de Brandemburgo e a Coluna da Vitória, ambos de Berlim, o memorial se destaca pela sua simbologia e pela localização estratégica, próximo ao Parlamento. A Macedônia do Norte é um país democrata e parlamentarista.

Memorial dos Heróis “Caídos”
Prédio do Parlamento

6 – Cruz do Milênio – fica no topo do monte Vodno que rodeia a cidade. É uma das maiores cruzes cristãs do mundo, com impressionantes 66 metros de altura. Construída para celebrar os 2000 anos do cristianismo, foi inaugurada em 2002 e se tornou não só um símbolo religioso, mas também um dos mirantes mais emblemáticos da capital macedônia. O acesso à cruz pode ser feito de ônibus (aos fins de semana, o ônibus 24 é gratuito) até a base, de onde um teleférico panorâmico completa a subida. Lá do alto, o visual da cidade rodeada por montanhas e o rio Vardar serpenteando ao fundo é simplesmente de tirar o fôlego — especialmente ao pôr do sol, quando a cruz dourada se ilumina como um farol espiritual. Infelizmente, não conseguimos ir até lá, mas, das redondezas do Parlamento, foi possível visualizar a cruz. Uma antena de TV digital estava sendo construída perto da cruz, o que, na minha humilde opinião, não combinou muito não!

Cruz do Milênio no topo do Monte Vodno

7 – Estação de trem antiga – está desativada, pois foi bastante danificada no terremoto de 1963. É um verdadeiro marco histórico, já que o relógio de sua fachada marca 5h17, horário exato do tremor e, por isso nunca o consertaram. Antes da tragédia, a estação era o principal ponto de chegada e partida de Escópia, conectando-a a importantes rotas comerciais dos Balcãs. As mercadorias eram levadas de lá até o mercado na cidade velha, passando pela rua Macedônia e pela Ponte de Pedra.

Estação de trem antiga com seu relógio na fachada marcando a hora do terremoto de 1963

8 – Rua Macedônia – O tempo passou, mas ela continua sendo a principal artéria da capital macedônia. Ela começa nas imediações da antiga estação de trem e segue até a imponente Ponte de Pedra, atravessando diversos pontos que traduzem a identidade local. Ao longo do caminho, o visitante encontra fachadas neoclássicas recentes, esculturas emblemáticas e espaços culturais que refletem a revitalização da cidade, com alguns cafés e lojas.

Rua Macedônia

Passeando pelas ruas da cidade, ficamos surpresas ao ver um ônibus vermelho de dois andares no estilo londrino. Eles foram introduzidos como parte da renovação do sistema de transporte público da cidade e rapidamente se tornaram um ícone urbano. Embora tenham sido fabricados na China, o design foi inspirado nos modelos britânicos clássicos — com o objetivo de dar à capital macedônia um ar cosmopolita e moderno. Na foto abaixo também é possível observar as placas da parada de ônibus que, para a salvação dos turistas, possui escritas no alfabeto cirílico, mas também no alfabeto romano, em inglês!

Ônibus em estilo londrino e plaquinhas com tradução em inglês

9 – Memorial Madre Teresa – um centro comunitário para pessoas carentes construído em homenagem à ilustre figura nascida na cidade: Anjezë Gonxhe Bojaxhiu, conhecida mundialmente como Madre Teresa de Calcutá. O edifício, que se localiza na Rua Macedônia, combina traços religiosos e comunitários, com uma pequena capela que relembra a antiga catedral católica destruída no terremoto de 1963 e espaços dedicados ao serviço social — refletindo a missão humanitária que marcou sua vida.

Memorial Madre Teresa

10 – Fortaleza de Escópia (Kale Fortress) – situada no alto da colina que domina o centro da cidade, é um dos marcos mais antigos da capital macedônia. Datada do período bizantino e posteriormente ampliada pelos otomanos, suas muralhas de pedra guardam os vestígios de diferentes civilizações que ali se estabeleceram. Embora esteja parcialmente abandonada, possui uma passarela que permite caminhar pelas muralhas e observar uma vista espetacular da cidade e do rio Vardar. A entrada é gratuita.

A cidade vista a partir da Fortaleza de Escópia
Um espaço bem interessante, mas um pouco abandonado
Tem uma passarela para passear pelas muralhas

11 – Mesquita Mustafa Pasha – quando saímos caminhando da fortaleza, nos deparamos, com uma mesquita simples e elegante e ficamos curiosas para conhecê-la. Ela foi construída em 1492, durante o domínio otomano, e está bem preservada (estavam fazendo umas reformas) e ativa, servindo à comunidade muçulmana local. Ela tem uma cúpula única, minarete esguio e jardins tranquilos que convidam à contemplação. A entrada também é gratuita.

Mesquita Mustafa Pasha
Interior da Mesquita Mustafa Pasha

12 – Memorial do Holocausto dos Judeus da Macedônia – fica perto da Ponte de Pedra e é uma homenagem comovente às vítimas macedônias do genocídio nazista. O edifício contemporâneo abriga um museu que documenta a história da comunidade judaica local — especialmente a tragédia ocorrida em 1943, quando quase todos os judeus da Macedônia foram deportados para o campo de extermínio de Treblinka, na Polônia. A beleza da edificação nos chamou a atenção, mas optamos por não entrar, pois seria uma visitação um pouco “pesada” e estávamos em outro clima.

Memorial do Holocausto
  • Comidas

Infelizmente, a passagem por Escópia foi muito rápida e não tivemos tempo suficiente para mergulhar na culinária local. Mas percebemos que ela sofre influência de diversos países, com destaque para a Turquia. Vou mostrar um pouco do que provamos.

1 – La Terraza – esse restaurante ficava, literalmente, embaixo do apartamento que alugamos. Chegamos famintas e não estávamos com forças para sair em busca de lugar para comer. O restaurante tem opções internacionais, como massa, e alguns pratos locais. Fizemos uma mistura: um prato local, que era um espetinho de carne com legumes, e um prato de espaguete.

Nossa primeira refeição na Macedônia do Norte

2 – Old Bazaar – são diversas as opções de restaurantes no Old Bazaar. Tem cheiro de comida por todo lado! Infelizmente, não anotei o nome do restaurante que escolhemos, foi o que estava mais movimentado e com o cheiro mais forte e agradável. Era um restaurante turco, especializado em kebab, pedimos dois de carne (vem a carne, salada, batata frita e pão sírio) e uma porção de feijão. Para acompanhar, eu pedi uma cerveja local: a Skopsko (levinha). Luta foi entender a conta! Mas a galera é muito simpática e prestativa. O inglês deles não é dos melhores, porém eles dão o jeito deles para se comunicar e atender bem os turistas.

Almoço turco no Old Bazaar
A conta do restaurante

Para a sobremesa, escolhemos uns docinhos turcos que vimos numa lojinha do Old Bazaar, cuja vitrine era bem convidativa.

Vitrine de doces típicos
Docinhos turcos

Não poderíamos deixar de provar o salgado mais famoso deles: o byrec, que é parecido com o nosso folheado. Eles comem normalmente no cafe da manhã com o iogurte deles (salgado e cremoso). Segui essa tradição. Adorei o byrec, mas não curti muito o iogurte.

Byrec

Foi bastante interessante conhecer essa cidade tão peculiar, que foi devastada (mais de 80% da cidade) por um terremoto há menos de um século e vem se reerguendo. Confesso que fiquei bastante curiosa em saber como era a cidade original, antes dessa devastação. A cidade está ficando bem bonita e atraente para os turistas, com várias construções e monumentos que lembram as grandes metrópoles europeias (Paris, Berlim e Londres, por exemplo), mas fico em dúvida sobre a identidade do lugar, se não está se perdendo um pouco.

Da rodoviária central de Escópia, seguimos de ônibus (€27 cada) para Sofia, capital da Bulgária. Foi uma viagem bem tranquila, que durou cerca de 6 horas e, na fronteira tem a parada para a apresentação dos passaportes.

Nosso ônibus para Sofia
Os assentos não eram os mais espaçosos, mas foi tranquila a viagem

Continuem acompanhando a nossa aventura pelos Balcãs!

Até a próxima!

MAPA:

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Um comentário

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